É impressionante como eu perco o meu tempo tentando fabricar, inventar uma moralzinha besta! Pagar de cool é uma atitude que eu pensava ser indestacável do meu pack de personalidade, mas quando eu encontro lugar e hora pra jogar essa roupa incômoda pra longe, eu percebo como a vida pode ser descomplicada.


Situação: trote no ônibus que vem da faculdade pra São Bento.

Meu blasè interior declara [porque ele sempre fala antes de qualquer um abrir a boca]:
- Pfff trote. Isso é tosco. Eu não gosto. É palha. Nem quero. Ok vou dormir, aquele beijo.

Meu eu simples comenta:
- Ué, mas é tão fácil! Dá uma graninha e pronto, curte uma bebida, interage um pouco...

Meu blasè interior é pego desprevenido por um rosto familiar que aparece de repente, sorrindo e pedindo pra todo mundo participar porque vai ser muito legal! Meu eu simples aproveita a deixa e colabora com a graninha, então, é quase nada pô. Mas OI, -qqq, vocês querem passar batom na minha cara?

Meu blasè interior protesta, querendo impor respeito.
Um veterano bem mais forte que eu me segura na poltrona. Flau, batom na cara. Sifudeu.
A essa altura do campeonato, Meu blasè interior já murchou total e Meu eu simples tá comemorando a vitória pequena, mas simbólica. Ele acorda um dos seus melhores amigos, o Meu eu foda-se-to-cagando-bora-curtir, e esse eu vai pro corredor do ônibus, coloca uma saia de oncinha [?!]. dança Eguinha Pocotó e manda a-quele copaço de vinho pra dentro de uma vez só, para delírio completo e aprovação geral dos envolvidos.


Doeu? Nem um pouco. Já tá na hora do meu blasè interior aprender que a vida foi feita pra ser simples e fácil. Que no escuro todo gato é pardo. E que o tempo que se perde reinventando um mock-up sem graça, pra expor numa feira que ninguém vai visitar, podia ser gasto se divertindo. E crescer.