Todo ano, quando o frio chega, ele impertinentemente me arranca da espécie de conforto mental em que eu vivo, e eu sou jogado em um mar revolto de pensamentos estranhos. São tantas filosofias que me passam pela cabeça, enquanto eu sinto meus pés congelando gradualmente e assisto a fumaça que sai da minha boca, que eu tenho vontade de gritar todas elas, gritar até que alguém venha ver o que está acontecendo e não parar de gritar até deixar a outra pessoa tão enlouquecida quanto eu. Cada certeza que eu tenho é questionada, e é exasperante passar por isso outono após outono. Principalmente porque, um ano após o outro, a única certeza que sempre permanece, impérvia, é a de que todos nós nascemos sozinhos, vivemos sozinhos e morremos sozinhos. Eu estou cansado de ler, estudar e perceber, quero ser lido, estudado e percebido também. Quero que alguém chute a porta dessa casamata de ferro onde eu vivo, que traga uma garrafa da minha bebida favorita e que me puxe pela mão pra ir pra algum lugar onde eu ainda não fui, mas que eu vá gostar. Quero que tudo isso vá embora com o vento quente do fim do ano, pra jogar toda a lã no armário e esquecer, por um tempo, dos fios soltos que despontam da blusa e me deixam nervoso. E que quando eu morrer, me enterrem de pé, pois eu vivi a vida toda de joelhos.

1 comentários:

Não sei o que me impressionou mais, o texto ou a imagem. Ok, foi o texto. Não sabia que você se sentia assim em relação ao frio. Já leu aquele conto do Lovecraft que fala do frio? Esqueci o nome.
Eu considero o frio uma época de pessoas charmosas e programas indoor. Por isso estou te estendendo a mão e lhe perguntando: -é vinho? Posso te levar à novos lugares escondido dentro de velhos conhecidos, tenho coisas pra te apresentar e estou ansiosa por isso.

13 de maio de 2009 às 09:19